sábado, 16 de junho de 2012


Para 10.06.12
MPEC Unifei 1/2012
Disciplina Tendências contemporâneas de currículo
Profa. Dra. Rita Stano


Chimamanda e Freire, o que têm os dois em comum?

Chimamanda Adichie e Paulo Freire parecem tão diferentes um do outro, envoltos ambos nas suas culturas separadas por um oceano de distância, por hábitos e costumes próprios; exóticas ambas, é verdade, mas tão diferentes entre si...
Aparência, apenas...
Nigéria e Brasil, países tão díspares se elegermos algumas variáveis para análise, mas tão semelhantes sob outro olhar...
Não vou me deter nos aspectos econômicos e sociais que podem ser vistos como diferentes para os dois países (na leitura de indicadores econômicos apenas), nem vou me prender à semelhança destas mesmas desigualdades, semelhanças que repelem os nossos dois países para a periferia do capitalismo.
Vou me deter apenas na fala da escritora e do educador dos dois países que em muitos aspectos são parentes próximos: ambos denunciam o crime de sequestrar pessoas à visão míope dos pré-conceitos sobre outras pessoas!
Ambos alertam para o perigo de ficarmos confortáveis com apenas poucos dados sobre algo ou alguém, por comodismo ou ignorância. E sobre o risco de tomarmos as nossas decisões pautados pela visão pobre do que, então, se torna preconceito e enrijecimento.
Em Educação, mais do que perigo; talvez pecado mortal!
Se condeno um aluno a uma leitura apenas de tudo o que guardei da sua multiplicidade, eu o sequestro para um canto escuro da minha relação com ele e com o seu crescimento, suas dúvidas e sua vontade de ir atrás de respostas.
Porque ele me desafiou um dia, porque dormiu na minha aula, porque respondeu chamada e saiu, porque avaliou com nota baixa a minha disciplina ou o meu jeito de dar aula, por qualquer um destes motivos ele pode se transformar, para mim, em um aluno que não merece o meu empenho e a minha boa vontade...
Porque me dá respostas curtas e rasas, pode se tornar alguém que não contribui para a sofisticação dos conceitos que transmito à classe...
Porque é pobre numa classe de ricos pode se tornar alguém a quem não vale a pena pedir por experiências interessantes...
E se eu sou melhor do que todos eles
*      porque sei mais
*      porque sou mais experiente
*      porque sou mais inteligente
*      porque conheço gente importante
*      porque sou eu quem decide sobre o dia das provas
*      porque sou eu quem elabora as provas
*      e sei lá por quantas coisas mais eu tenho poder sobre eles...
aí então estamos todos, professores e alunos, em perigo: o “nkali” da Chimamanda me tomou como prisioneira inerte, imóvel na cela minúscula e suja da pobreza de alma.
Paulo Freire nos diz que, para ensinar e aprender é preciso respeito, ética, amor, beleza, crença na vida, ação política, dignidade...
Chimamanda pede que contemos a nós mesmos e aos outros que estão conosco na aventura de viver, muitas e muitas ricas histórias de cada um de nós...
Eles dois são muito mais iguais do que diferentes! 

Um comentário:

  1. E seu texto está um primor de sensibilidade, de uma reflexão profunda e importante sobre a simplicidade que jamais devemos perder e do respeito que sempre devemos demonstrar aos que aprendem juntos, professores e alunos. Xinga o blog e ele é tão bonito e denso!!! Nele você tem registrado tantos bons e marcantes pensares.

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